terça-feira, 16 de setembro de 2003

Grandes Vidas

O descanso dos guerreiros… Acordámos por volta das 11 da manhã depois de no dia anterior nos termos deitado às 21:30. De facto, as noites anteriores não tinham sido de muito descanso. Os mosquitos atormentaram-me o sono, e por isso este dia serviu para dormir até mais tarde.
Depois de acordar fomos levantar dinheiro. Na ilha não existem ATMs, só há um banco e uma dita “agência” onde podemos fazer cash-advance. Por acaso também é pronto-a-vestir! Fizemos o pedido, a senhora teve que telefonar para a Redunicre lá do sítio de modo a nos darem autorização… Afinal isto dos cartões de crédito (Visa e Mastercard) sempre é igual em toda a parte do mundo. Velhos tempos… Excelentes recordações…. O meu primeiro projecto profissional na Andersen Consulting, agora Accenture: Desenvolvimento do Sistema de Autorizações de Cartões de Crédito da Unicre. Coincidência ou não, neste dia usava uma t-shirt pela participação no 11º torneio de squash da Andersen Consulting.

Almoçámos um gigante e saborosíssimo hamburger no mesmo restaurante de ontem à noite, aproveitando para saldar a dívida. Como na ilha só havia 2 locais onde “comprar” dinheiro, no dia anterior, quando chegámos já estavam fechados, por isso não nos restou outra solução que ficar a dever no restaurante o jantar. De papo cheio e por mais 15€, trocámos as bicicletas alugadas no dia anterior, por uma scooter. Dar a volta à ilha a pedalar é um bocado cansativo, ainda por cima empanturrado. Ao final do dia voltámos a praticar o plano do dia anterior: deitar em frente à cabana, “assar” ao sol naquela praia deserta e tomar refrescantes mergulhos no mar….Como verdadeiros sobreviventes, descascámos uns cocos e bebemos da deliciosa água. Foi engraçado que procurámos durante todo o dia, infrutiferamente, um local para beber água de coco, acabando por fazê-lo na própria pousada pelas próprias mãos. Só faltou subir ao coqueiro!

A noite foi marcada por uma visita ao Samade. Bar típico da zona com jantar e bailarico tradicional dos Maori. O “jantar dançante” tinha uma grande variedade gastronómica. As danças Maori foram animadas e traduziam-se num ligeiro toque de sensualidade. O fecho da festa ficou a cargo de um jovem músico. Com o seu piano eléctrico ultra super moderno e todo tunning, animava a malta com música comercial. Lentamente a “pista” foi enchendo. Perdão, a praia foi enchendo! Obviamente tudo se deveu à nossa presença. Ninguém fica indiferente à nossa beleza! O jantar foi bem regado e os 4 whisky posteriores ajudaram! Todos estavam super animados. Novos e velhos. Senti que estávamos no lugar certo, na hora certa …






segunda-feira, 15 de setembro de 2003

Welcom e to Paradise…

Despertar: 8:30.
Para pequeno-almoço servimo-nos das sobras da jantarada de ontem. Foi salada de pasta e soube bastante bem! A “bíblia” já tinha informado, um dos backpackers confirmou e a Rebecca aconselhou, tínhamos que visitar Aitutaki. Saímos em direcção ao centro para saber preços de voos e estadia. O saldo final ficou em 254 NZD para o voo por pessoa. Comprámos os bilhetes de avião, mas a dormida teve que ser adiada. Fomos à aventura. Ainda não foi desta que conseguimos reservar a pousada que nos aconselharam no Rarotonga Backpackers. Mas a ilha é pequena e muito provavelmente não haveria dificuldades em encontrar alojamento, por isso avançámos à confiança. À terceira será de vez!

Aproveitámos a ida ao centro e, como resultado das diversas influências até então, alterámos o tempo de permanência na Nova Zelândia. De modo a optimizar a visita à ilha do sul, adiámos para dia 27 a saída de Christchurch, inicialmente prevista para dia 25 de Auckland. Assim, estaríamos 6 noites exclusivamente na ilha do sul.

O avião para Aitutaki partiria às 2:00 da tarde. Voámos na Air Rarotonga. A capacidade do avião era para cerca de 14 pessoas e em menos de uma hora aterrámos em Aitutaki. A vista lá de cima sobre a ilha é verdadeiramente fenomenal, linda, excêntrica, divinal, e todos os outros adjectivos que não me recordo agora! É realmente um paraíso, água azul, a ilha verde, as praias brancas (sou daltónico vi estas cores, sim!). Era lindo, lindo! Aitutaki lembra um triângulo constituído por diversas ilhas e rodeado por uma barreira de corais. A norte a ilha maior tem cerca de 20 km2. A perfilar o triângulo existem os restantes ilhéus criando, no meio do triângulo, uma espécie de lagoa, com água cristalina completando a visão paradisíaca que se tem do avião. Estava um sol radioso, as praias ladeadas de palmeiras, o mar azul, tudo se conjugava para que realmente nos sentíssemos no paraíso…
O autocarro que fazia o transfer do aeroporto até aos (poucos) hotéis da ilha ajudou-nos a encontrar poiso. A recomendação que trazíamos dizia Paradise Cove. O autocarro parou em frente a um local relativamente familiar com uma cabana em frente ao mar! Um letreiro informa Take the shoes off. Não deixa de ser curioso, num país com poucas condições e com um nível de vida bastante baixo, ser uso corrente retirar o calçado à entrada (suponho que) por questões de higiene. Procurámos alguém que nos atendesse e nos informasse das condições da estadia. A recepção era no mesmo local da sala de estar, da cozinha e da casa de banho comum! Infelizmente não apareceu ninguém, o Paradise Cove parecia o Paradise Lost! Restava-nos regressar ao autocarro. Quando tudo parecia perdido avistámos uma vivalma e fomos a correr ao seu encontro. Perguntámos se havia disponibilidade para 2 pessoas, mas só havia cabanas junto ao mar. Perfeito! Por apenas 3 contos numa cabana junto ao mar numa ilha linda de morrer. Não desfazendo, a companhia é que podia ser outra, sei lá mais feminina… But, no worries! A partir dali restava instalarmo-nos, desfrutar e usufruir daquele momento. A dádiva de poder estar numa ilha com toda aquela beleza. A água do mar parecia sopa. O sol bombástico contribuía para ganhar uma ligeira tonalidade. A praia deserta. Tudo parecia retirado de um postal. E nos dias que correm esses postais tornam-se cada vez mais raros.

Chegou a hora do jantar. Decidimos ir ao recanto vizinho. A comida era óptima e fomos servidos em fartura: frango caseiro e peixinho do Pacífico. Ao nosso lado decorria uma festa de aniversário. Festejavam-se os 21 anos de um nativo. Com a habitual alegria e simpatia ofereceram-nos amavelmente um pedaço do bolo. O jantar de aniversário terminou com o discurso de familiares e amigos. Apesar da maioria falar Maori, muitos falavam em inglês e deu para perceber que o jovem se estava a emancipar (aos 21 anos!). Legalmente ele está livre, estava no direito de sair da ilha, se assim o entendesse, de modo a procurar melhores condições de vida. Todos tomaram a palavra e a mensagem que lhe davam era sempre a preocupação de que nunca se esquecesse dos pais, avós, familiares e amigos que deixaria em Aitutaki. Caber-lhe-ia decidir o que fazer dali para a frente, mas no fundo nunca poderia esquecer as suas raízes.
Engraçado, mais de 15.000 km de distância de casa, no mais humilde país e na mais modesta família existem valores iguais. Não é preciso percorrer meio mundo para os validar, nem para sentir a importância da família e dos amigos. Não é preciso percorrer meio mundo para confirmar o sentimento de pertença. Mas, depois de percorrer meia Europa e depois de percorrer meio mundo garantimos que, esses são verdadeiramente os nossos valores. E que vão estar connosco até ao fim.
O jantar terminou! Todos nos vieram cumprimentar. O mais alto responsável da ilha, algo tipo governador, também estava presente. Contrariamente, aos restantes habitantes, já tinha viajado bastante, até mesmo pela Europa. E claro, tinha um amigo português!!!! Conversa puxa conversa, partilhou-nos que somos os primeiros portugueses a pernoitar nesta pousada de Aitutaki. A pensar pela amostra e pelos comentários muito provavelmente poucos mais portugueses já estiveram por Rarotonga e Aitutaki. Em grande!



domingo, 14 de setembro de 2003

Coincidências

Chegámos a Rarotonga! Foi o segundo local para o qual reservámos antecipadamente a estadia (a primeira tinha sido a noite em Londres), pois a pouca oferta existente poderia resultar numa possível barreira à entrada no País. Tal como combinado havia gente à nossa espera no aeroporto – Rebecca de seu nome (se a memória não me atraiçoa tinha sido o contacto
de reserva da pousada). A primeira conversa foi sobre as Ilhas Cook … A ilha é linda, linda, linda! Nada tem a ver com a imagem que retive da Internet. Pensava que ia encontrar uma paisagem seca, rochosa e que só as praias valessem a pena. Nada disso. A ilha é toda, toda verde, cheia de vegetação. O tempo nublado rapidamente se transformou em chuva. Afinal estava num país tropical. Recordei a “velha viagem” à república dominicana. Não só o tempo é semelhante entre os dois países, infelizmente o nível de vida é igualmente baixo. Contraditoriamente, ou não, há felicidade nesta gente. As crianças não mentem. O seu olhar diz tudo. Diz que são felizes, diz que se divertem com o pouco que têm! Por outro lado, apesar das parecenças entre as duas ilhas, o momento que passei num e noutro local são completamente diferentes. A República foi a minha primeira viagem intercontinental, foi a viagem de finalistas, foi com uma companhia diferente, agora estou “sozinho” e a realizar um sonho. Na realidade, dou conta, que tenho este sonho, mas que nem ao certo sei quando nasceu. Seria na minha infância, durante as regulares viagens até
Mós e Carviçais, quando espreitava a janela do carro e reparava no transformar da paisagem? Saímos da cidade, da praia e partíamos pelo Douro acima serpenteando pelos montes com o cheiro a terra seca. Seria na adolescência, quando percorria Portugal com os meus tios e mais além fui na minha primeira incursão nos países de Leste, passando por terra de nuestros hermanos, pelo romantismo de Veneza, pela verde Áustria até à Hungria? Seria com o maior, nas grandes e marcantes aventuras de quase tudo? Foi com ele que nasci e partilhei tudo desde os tempos quando era apenas um pequeno benjamin até agora. Seria na juventude, quando com ele fiz o primeiro inter-rail de mochila às costas e guitarra soando na mão? Seria na universidade que a (im)possibilidade de fazer Erasmus cavou um fosso no meu percurso e marcou um objectivo: viver no estrangeiro durante um período de tempo? Seria no trabalho, o timming do projecto da TPI e pelo desafio do meu mate? Realmente a resposta ao nascimento deste sonho é: Sempre! Sempre fui aventureiro, amante das viagens e do conhecer. Agora estou a concretizá-lo.
Rarotonga é uma rua. A rua circunda a ilha, num total de 32 km. Alugámos uma scooter (com 4 mudanças semi-automáticas!) e lá fomos à descoberta. Ao largo da ilha há uma barreira de corais que trava as investidas do mar. As praias, apesar de não serem muito largas e sem grandes extensões de areia até ao mar, são bastante compridas, permitindo, na areia, dar a volta a toda a ilha. A completar o ramalhete desta paisagem idílica estão as palmeiras que entram areia adentro e beijam as ondas…A sul da ilha principal – Rarotonga, existem 3 pequenos ilhéus com ar selvagem. Foi com este pano de fundo que almoçámos em MuriI Beach no Sails Restaurant. Tinha toda a pinta de ser a praia chique da zona. Comemos divinalmente a um preço aceitável (17€) para quem está numa ilha paradisíaca… Rarotonga Backpackers. A pousada situava-se no meio duma encosta, entre a vegetação e a uns 400 metros do mar. Perfeito pensei. Pernoitar numa pousada construída praticamente sobre as árvores, com uma vista fabulosa da vegetação ao perto e a praia de fundo, não é todos os dias. A sala principal e de convívio da pousada é um
open space dividido em 3 zonas. À entrada, do lado esquerdo, a pequena cozinha que todos usavam e tinham a obrigação de a deixar como a encontraram – Limpa! Do lado direito, a mesa das refeições que não era nada mais nada menos que uma mesa comprida para albergar 15 a 20 pessoas. Na zona mais recuada, a toda a largura da sala, o local de lazer com sofás e mesas de jogos. Na parede um quadro de corticite com o mapa-mundo marcado com pioneses a nacionalidade dos turistas que por lá passaram. O nosso momento de glória chegou quando sinalizámos devidamente Portugal no quadro! Moimeme e my mate Hugo, os primeiros portugueses a ficarem em Rarotonga Backpackers! Yes! Afinal podemos ser comparados a Vasco
da Gama. Na pousada, o ambiente é típico de backpackers: chinelo no pé, calções e t-shirts. São jovens sem grandes preocupações, sedentos de festa e com alguma “irresponsabilidade” para com a vida.

Há gente que tem vidas muito diferentes da minha, dos meus e dos que me rodeiam. Passeiam-se pelo mundo vão ganhando uns cobres (principalmente em países mais ricos) para viver durante mais uns meses e voltam a viajar (e a gastar em países mais pobres). Vão para
ilhas como esta, em que há qualidade de vida, bom tempo, boa comida, tudo é barato e pronto, aí sobrevivem durante mais uns tempos….estes sim, são uns cidadãos do mundo!
Para festejar o aniversário de uma rapariga houve uma festança “sob a forma” de barbecue. Aproveitei para praticar o meu inglês ainda ferrugento. Quase todos que estavam hospedados estiveram presentes. Mas acabou por ser uma certa desilusão para mim. Admito que o maior culpado até tenha sido eu, pois não fiz o mínimo para me integrar. Por outro lado, também, não me pareceu também haver grande abertura, para que eu e o Hugo nos integrássemos. Assim,
aproveitei e estive toda a noite a escrever no diário e postais para a malta…. A noite foi salva por volta das 22:00, quando começou a chover a cântaros e demos um mergulho na piscina!!!! Fenomenal. (mais uma coincidência com a República Dominicana!)

Creio que me fez bem escrever este diário, quanto mais não seja para parar e pensar, reflectir um pouco. Por exemplo o que (não) se passou no dia de hoje acabou por confirmar a ideia que tinha relativamente à vida nas pousadas. Primeiro foi quando fiz o interrail, que acabou por
(não) confirmar totalmente que o ambiente é de deboche total. Tudo aquilo que imaginámos pelo que nos contam, na realidade não se passa assim tão regularmente. Admito que, ocasionalmente, se passa, mas pode ocorrer, numa pousada de juventude, como numa discoteca, como numa viagem de família, como num dia na praia, como num piquenique no campo. O que eu quero dizer é que todas essas maluqueiras, esse mitos urbanos, existem, não em locais específicos, mas em toda e qualquer parte. Basta estar no lugar certo, na hora certa e tomar a decisão certa.
Os últimos tempos, pelo que (vi)vi, aprendi muito. Acredito que sei distinguir melhor o que está bem e o que está mal. Quanto mais (vi)ves menos vergonha temos, menos escrúpulos temos e mais egoísta nos tornámos. A vida torna-nos num monstro e se há momentos que gostaria de dizer que “desta água não beberei”, cuidado que a vida nos atraiçoa…Se por um lado, este ano não me posso queixar, estive nos lugares certos, às horas certas e tomei as decisões que considerei certas. Por outro lado faltou a química, o gostar e o amor. Cada um por si já significa qualquer coisa, mas só os três sentimentos em conjunto é que fazem sentido para se poder, a partir, dai construir o futuro. Os alicerces. Definitivamente, pergunto, quando começarei a
construí-los? Mas apesar de tudo, o saldo do ano que passou foi quase perfeito.
Profissionalmente (na Deloitte), isto é, desde Maio a Junho foi quase perfeito. Quase, porque o falecimento do meu avô foi o momento mais triste e que lamento profundamente. Apesar da sua timidez e das poucas conversas que tínhamos quando chegava a casa fazíamos um rescaldo das aulas, do trabalho, do dia, da semana, das férias, aproximava-me dele, sentado na cadeira da cozinha sempre lúcido, sem nunca se queixar! Se era por resignação ou para não incomodar, nunca saberei, mas são boas as recordações que guardo. Que Deus o tenha! Falando do lado positivo, pessoal e profissionalmente, consegui ir para um projecto internacional. E que grande experiência na “movida” em Madrid. Além das vantagens de estar deslocado, viver em Madrid, fazer escapadinhas aos fins-de-semana para a Europa, estando ao mesmo tempo perto de casa (1 hora de avião). Foram momentos espectaculares! No final do ano fui promovido…. Agora estou a realizar uma volta ao mundo…. Que mais quero? Alicerçar?... Ok, então fico à espera …



sábado, 13 de setembro de 2003

Do luxo à selva

Alvorada: 9:00. O objectivo era visitar o centro de Hollywood, Beverly Hills, Sunset Boulevard, Bel Air e toda a zona chique de L.A. Picámos qualquer coisa no supermercado ao lado da pousada e partimos para o L.A. tour. Percorremos um pouco Hollywood e partimos pela sunset boulevard em direcção a Beverly Hills e Bel Air, para as casas das celebridades. Bel Air é onde se concentram mais casas de famosos. O percurso foi interessante, mas a partir de determinada altura começou a ficar maçudo pela demorava do autocarro em frente às casas das celebridades para os chineses tirarem 30 mil fotos! Curiosamente, duas estrelas da música têm as casas bastante próximas – Mick Jagger e Elvis Presley! Depois, percorremos a Hollywood Boulevard. O kodak theatre, onde actualmente é realizada a cerimónia de entrega dos Óscares, não o palco da cerimónia desde o seu início. Foi em 1928 no Hotel Roosevelt Hollywood que se realizou a primeira cerimónia e pautou-se por um autêntico fracasso. Ninguém se compareceu no evento! Quem diria que iria ter o sucesso que todos sabemos? Entretanto, em Portugal já era dia 14, por isso era dia de “parabenizar” a Susana e o Nuno. Terminou o tour, recolhemos as mochilas e arrancámos para o aeroporto – Destination: Cook Islands. A viagem até ao aeroporto obrigava a apanhar o metro e o comboio durante cerca de 2 horas! Coincidência ou não, é a segunda vez que ando de transportes público e é sempre às “doses” de 2 horas! Isto realmente é um mundo….caótico no que respeita ao trânsito! Chegámos com muita antecedência. No aeroporto encontrámos um dos jovens ingleses que tinha ido connosco a Las Vegas. Se nós íamos para o pacífico sul, ele regressava a Londres. Conversa puxa conversa, partilhámos as nossas aventuras da volta ao mundo. A nossa, a começar e a dele, a acabar. A dele durou 80 dias, basicamente os 3 meses de férias que um estudante tem. Foram enriquecedores os momentos de conversa com ele no aeroporto, para compensar o pouco que falámos no tour de Las Vegas. Ali, enquanto nenhum de nós partia, pusemos a conversa em dia. Questionámo-lo sobre preços da sua viagem (1000 Libras), a agência onde comprou (STA) e qual a rota escolhida (London, Hongkong, Bangkok, Singapura, Multi Stop New Zealand, Fiji, Los Angeles). Uma vez que as nossas viagens tinham paragens em comum conversámos sobre todas elas e o que nos aconselhava a visitar, e … chegou a hora do voo dele. Com expectativa de encontrar Internet no aeroporto, a realidade foi crua e traduziu-se em apenas meia dúzia de lojas dutty free e nada mais havia a fazer. Para um aeroporto daquela importância e tráfego a coisa era fraquinha! Sentámo-nos na cafetaria a ver o tempo passar. Durante o tempo de espera, como habitual nestas andanças, aproveitámos para nos informar sobre as Cook Islands. A experiência anterior dos interrails diz-me que, os “tempos mortos”, de viagem entre cidades, deve ser aproveitado para recolher todo o tipo de informação do próximo destino, principalmente através da leitura das bíblias de viagem – let’s go e/ou lonely planet. Foi exactamente isso que despertou o interesse de um jovem ancião – o lonely planet sobre Rarotonga. O mote estava dado e começámos uma amena conversa sobre as nossas vidas. Ele era da ilha do sul da Nova Zelândia. Contou-nos o que devíamos ver nessa zona do país e as oportunidades a desfrutar na ilha do norte. Tal como nos tinha sido aconselhado pelo inglês há minutos atrás, este senhor confirmou que a ilha do sul é realmente a mais bonita, o que nos obrigará a repensar os “míseros” 6 dias na Nova Zelândia. Este simpático “jovem” estava de regresso a casa não deixando de reforçar a oportunidade que temos de fazer a volta ao mundo. Caso os europeus queiram conhecer a Austrália e a Nova Zelândia, têm que percorrer meio mundo para realmente ver aqueles 2 maravilhosos países, mas também, como é óbvio, o contrário se passa. Ele também fez 2 dias de viagem quando quis conhecer a Europa, de Itália até aos países escandinavos. A próxima vez dele será para uma visita ao norte mediterrâneo, da Grécia a Portugal. Por isso aconselhou: “não desperdiçar e a aproveitar o máximo possível desta benesse da volta ao mundo”. Voltar a este lado do mundo nunca mais acontecerá ou, para os mais sortudos, poucas mais vezes acontecerá, continuou. A idade é um posto e ouvimos atentamente os conselhos do “jovem”. No final pensei com os meus botões, “Assim o farei”. Embarcámos. Ao meu lado no avião está um inglês adepto do Manchester United que já falou do Cristiano Ronaldo, do Hugo Viana (!!!) e outros. Também vai para Rarotonga e ficará uns tempos a trabalhar na Austrália para daqui a uns meses (antes que a validade do bilhete da volta ao mundo acabe) regressar a Manchester. A viagem para Rarotonga não é directa, fizemos escala no Tahiti, lembrei-me do Nuno e da Claudia que, também aqui, fizeram escala para Morea, uma das ilhas do arquipélago do Tahiti. São 11 horas de diferença para Portugal tal como será em Rarotonga, nasce o dia cá e em Portugal está o sol a pôr-se…curioso! Os da TPI a trabalhar, os de Lavra a trabalhar, os da Universidade a trabalhar, os da Deloitte a trabalhar e eu e o Hugo aqui a divertir…A verdade é que estava no outro lado do mundo, estávamos nos antípodas. Parafraseando um excerto do filme “Lunes al Sol”: “Aquí hay trabajo, ala no! Aquí se jode, ala no”. Não me cansaço de repetir, neste tipo de viagens conhecemos bastantes pessoas, partilhámos experiências e opiniões, permitindo emendar algumas opções inicialmente feitas e (re)fazer melhor o itinerário. Encontrámos pessoas de todo o lado do mundo a fazerem a volta ao mundo (RTW – Round The World)! Posso ser o único do meu círculo de amigos, colegas e conhecidos, mas em todo o mundo sou apenas mais um…

sexta-feira, 12 de setembro de 2003

Escala em L.A.

Acordar e regressar a L.A… No autocarro está um calor insuportável. Deve ser para compensar a temperatura baixa em que estava o ar condicionado no dia anterior! Depois de passar o deserto chegámos ao outlet em San Bernardino para almoçar e, tal como prometido, fazer as prometidas compras. Realmente tudo é muito mais barato, e as coisas são bem giras. Este “campeonato” é muito diferente do outlet do Carregado. Isto sim é outlet, bom e barato! Acabei por comprar uma mochila da GAP e uma t-shirt da Guess. Como disse o Hugo, se fosse a última paragem podia-se levar muito mais, mas ficará para próxima. Almoçámos num fast food japonês e seguimos para Los Angeles (…. The Doors), de volta a Venice Beach. No entanto, como gostaríamos de estar no centro de Hollywood para no dia seguinte não estar a carregar com as malas às costas na visita a Hollywood, cancelámos no Venice beach cotel e antecipámos a nossa deslocação até ao centro. Viagem até lá foi de autocarro. Tardou cerca de 2 horas. As distâncias em L.A. são muito grandes e com o trânsito infernal que há, demorámos imenso tempo a percorrer pequenas distâncias – Viva o pequeno Portugal!. Instalámo-nos no Hollywood International Hotel. Pelo nome até parecia que era um hotel de cinco estrelas, mas não passava de uma pousada da juventude. A ver pela recepcionista que se mostrou, sem razão aparente, bastante rude, não havia razão para mais alto estatuto. Ainda assim tivemos que a chamar à razão e alegremente a partir daí tornou-se muito simpática. Acabou por dar algum “morbo”… A fomeca começou a apertar e fomos jantar no Mall imediatamente em frente à pousada. A noite seguiu-se, mas tal como já tínhamos lido no Let’s go, havia sido recomendado pela recepcionista e devidamente alertado pelos noruegueses do no nosso dormitório, deveríamos permanecer na zona (Hollywood Boulevard). As ruas paralelas (à Hollywood boulevard) são bastante perigosas para turistas. Existem muitos sem abrigo, alguma violência e vandalismo de gangs, que sentindo “carne fresca” na zona estão prontos para atacar. Infelizmente dão a Hollywood o seu lado mais negro! Assim, caiu por terra o objectivo de visitar o whisky go-go, um ex-libris onde actuaram os The Doors e a Janis Joplin. Posto isto, decidimos então ir ao cinema. Afinal estávamos na terra eles se realizam e produzem. Fomos ver o SWAT – Special Weapons And Tactics com o Samuel L. Jackson. Por volta da 1:00 a.m. deitámo-nos. O dia seguinte era dia de L.A. City tour e arranque para as Cook Islands.


quinta-feira, 11 de setembro de 2003

Um espectáculo… visto do céu

As consequências físicas de andar, no dia anterior, de um lado para o outro, sem faltar a devida companhia que faz um homem muito mais macho nestes sítios (ou seja, o meu Gin tónico), resultaram num cansaço desmesurado. Por obra do acaso o Hugo acordou 10 minutos antes do autocarro sair! Grande Hugo! Sorte! A falta de comparência das chinesas fez atenuar a nossa falha. Surpreendentemente os ingleses também não foram fiéis ao seu estatuto de pontuais e, com o devido atraso (meia hora), arrancámos para a visita ao Grand Canyon National Park. Um dos ingleses tinha umas sapatilhas Merrel. Namoro estas sapatilhas há anos, mas há-de vir o dia em que tenha umas! A viagem ao Grand Canyon previa a passagem pelo Lake Mead e pelo Hoover Dam. O lago é o maior lago artificial e, ao mesmo tempo, reservatório (vulgo barragem) dos USA. Tem cerca de 180 km de comprimento num total de 35 km cúbicos de água o lago. O objectivo é fornecer energia a todo o sul da Califórnia. 5 horas depois chegámos! Existirem poucos spots que permitam realmente apreciar a beleza do Grand Canyon em toda a sua plenitude, mas o que se viu foi um espectáculo inolvidável. A possibilidade de viajar de helicóptero é realmente uma aposta a fazer no futuro, mesmo implicando mais investimento, é algo que não se faz ou se vê todos os dias. As palavras, as fotos, as imagens nunca serão suficientes para descrever tal sensação. Impressionante. São só 446 km comprimento, entre 6 a 25 km de largura e mais de 1,6 km (1 milha) de profundidade que teria que descrever, mas só vendo é que temos consciência de quão pequeninos e insignificantes somos. Qualquer comparação ou descrição desta maravilha do mundo acabará por nunca reflectir na grandiosidade deste cenário. De boca aberta me fico!

O regresso a Las Vegas tardou mais do que esperava, porém foi compensada pela paisagem Norte-Americana. A paisagem desértica alternava, entre a aridez e seus cactos com algo mais verde. O pôr-do-sol visto do autocarro sobre as montanhas é maravilhoso: o vermelhão que se assola no horizonte transmite uma sensação quente e calma. Os muitos quilómetros percorridos nestes 2 dias e, as horas de viagem são superadas com filmes, umas sonecas e esta paisagem.

A segunda noite em Las Vegas serviu para “limpar” os restantes casinos que ainda não tínhamos visitado. As minhas apreciações finais, depois do périplo, são: Paris, muito giro; Alladin e Escalibur, comparativamente, nada de especial; MGM é muito grande mesmo e tem muita mística; New York New York o seu coiote bar e a arquitectura exterior é de realçar; Luxor, muito bom, muito muito bom, tudo dentro de uma pirâmide… que espectáculo; Caesars Palace e Venetian fascinaram. Sem palavras!
Acabámos a noite no Bellagio na tentativa frustrada de recuperar o dinheiro para o jantar…





quarta-feira, 10 de setembro de 2003

Uma cidade dedicada ao jogo

Finalmente os efeitos do jetlag …. 3:00 da manhã acordo. Em Portugal seriam as 11:00. A insónia durou largos minutos. Voltei a adormecer. Às 5:00 da manhã acordo novamente. Desta vez, coincidiu com uma insónia do Hugo. Entretanto o Hugo adormece, mas eu fiquei definitivamente acordado. Só por raras vezes passara pelas brasas. A hora de partida aproximava-se e desisti de forçar a dormida. Eram as 7:00 quando entrámos no mini-bus para Las Vegas. Estavam 22 pessoas: velhinhos e jovens, chineses e japoneses, americanos e franceses e, claro, nós, os Tugas! Na conversa inicial com o motorista, o nome do Luis Figo, para não variar, veio à baila. Além disso ele sabia que Portugal e Espanha tinham jogado e ficou admiradíssimo com a derrota portuguesa. Aquele grande #$%#%$#!
Seguimos a Highway to Las Vegas. Apesar dos carros de grande cilindrada, a velocidade praticada é sempre a regulamentada. Os carros são bons, grandes máquinas, as estradas largas, mas o piso valha-me Deus! A sua irregularidade transforma a minha escrita em momentos de grande consternação e esforço! Sei que a minha caligrafia não é propriamente bonita, mas estava exageradamente horrenda. Salta o autocarro, salta a gente, salta a alma.
Entretanto entrámos no deserto de San Bernardino. Estradas sem fim, um calor abrasador e, eis que surge um complexo comercial com uma estação de serviço e um outlet com cerca de 100 lojas a preços super apetecíveis. Não sei de onde vem aquela gente trabalhar, mas a realidade é que é uma zona bastante movimentada. Fizemos a paragem para almoço, com a promessa que na viagem de regresso ali voltávamos para gastar o que ganhássemos em Las Vegas!

A viagem continuou… Na entrada do estado do Nevada, mais uma vez, no meio do deserto seco e oco, ladeado de montanhas e dos seus cactos característicos (a lembrar o “far oeste”), aparece um outro “oásis” – Bufallo Bill Resort and Casino Hotel. Hotéis, montanhas, deserto, outlets e casino eis a receita desta gente!

Las Vegas é um mundo! A primeira impressão é alucinante!!!! No meio do deserto surge uma cidade dedicada ao jogo (casinos, casinos e casinos!). Isto prometia! Tínhamos a tarde livre e fizemos um reconhecimento inicial a pé até às 20:00. Esta era a hora marcada para o city tour by night que estava incluído no pacote turístico.
O primeiro casino a visitar foi o Caesars Palace, impressionante! Todos os hotéis têm casino à porta, ou todos os casinos têm hotel? Bem, uma dúvida a esclarecer. Facto é que não se entra para o hotel, mas sim para o casino e posteriormente é que, seguindo as respectivas indicações somos direccionados para o cinema, shopping, spa, teatro ou hotel, onde nos podemos hospedar a preços verdadeiramente de “sonho”. Tudo é fantástico! O Caesars Palace é excelente! Quem deita o olho por fora, pode não parecer tão espectacular como o Paris (a réplica da Torre Eifell está um must), mas dentro tem tudo! Quatro salas de casino gigantes, lojas de roupa, cosméticos, restaurantes, salas de cinema, teatros, tudo, tudo! Tectos arquitectados com detalhe, uns simulam o céu com precisão divinal, outros com um qualquer tema de conto, filme ou época. Há esculturas, há pinturas por todo o lado. Cada hotel é uma cidade, onde os seus hóspedes podem fazer tudo sem de lá saírem.
O tour diurno guiou-nos para o Venetian. Tal como o nome diz, Veneza. A praça de S. Marcos, o grande canal, a ponte de Rialto e claro está, as gôndolas e os seus gondoleiros cantando para quem quer uma voltinha. Next stop: Mirage e Flamingo. Do primeiro, para além da frescura que emanava a flora existente, saliento a “vitória” que foi passarmos por hóspedes do hotel e usufruímos de tal benesse. Luxo só sustentável para algumas carteiras. Passeámos pelo interior do hotel e acedemos à piscina. Ao redor da piscina as luxuosas “barracas” de apoio aos hóspedes com pormenores exuberantes: LCD, sistema de som, espreguiçadeiras, bar e um empregado dedicado (só faltavam umas moçoilas com abanadores!). No Flamingo havia happy hour (2 for 1) em qualquer bebida. Há que aproveitar o desconto! Aproveitei para também tirar uma foto na Wedding Chapel do Hotel, mas fiquei no altar à espera...
Comum à cidade e a todos os casinossão as capelas para a celebração de casamentos. Por várias vezes vimos casamentos, não muito numerosos, mas com este pano de fundo, que é o jogo acabam por se tornar uma mistura peculiar! O tempo foi passando e regressámos ao hotel para preparar para a city tour by night…
À noite, para além de percorrermos a Las Vegas Boulevard, mais conhecida por Strip (onde ao fim-de-semana se chega a demorar 1h30m para percorrer cerca de 7 km resultado do trânsito infernal) fomos à Fremont Street, outra zona de casinos na baixa de Las Vegas, e onde toda a história da cidade começou. Sobre a cobertura, existente em grande parte da rua, havia um espectáculo de luzes e no qual recordo para a posteridade a imagem do cowboy de cigarro. Ali assisti a um outro espectáculo mas, de degredo. Um par de namorados, durante espectáculo de luzes, enrolou-se ao ponto de se começarem a despir! Esta “performance” só terminou com a intervenção da polícia. Estes americanos são doidos! Os polícias têm tanto de pudico, como os jovens de malucos, quando libertos pelo álcool e drogas.
A noite continuou pelos casinos. Depois da fugaz passagem pelo Rio acabámos a jantar no Harrah’s. Este jantar soube a pato! Explico: ficou de graça pois o ingresso no Bellagio foi lucrativo, a jogar na roleta acabámos por recuperar todo o dinheiro gasto no jantar...

Estes Americanos são “la hóstia”…. Uma cidade no meio do deserto, conseguem lotá-la de gente e movimentar milhões de dólares: um espectáculo! A vida exclusivamente dedicada a casinos, permite e justifica o tráfego aéreo do aeroporto. É considerado o 6º Maior do mundo em resultados financeiros. Mas o negócio do casino é, sem dúvida, o mais lucrativo. A título de exemplo, estava prevista a construção de um novo hotel/casino no valor de 2,5 biliões de dólares e previa-se um retorno no investimento um ano e meio depois! O facto de estar no meio do deserto permitiu a construção da cidade com largura mais que suficiente. Tanto nas ruas, como nos quarteirões impera o espaço (talvez considerou-se o tamanho corporal de um americano médio.) Por isso chegar a qualquer lado demora imenso e não se vê vivalma. Estão todos “fechados” nos casinos! Também, como é de esperar, no meio de tanta luxúria aparecem as “meninas” americanas e de outras nacionalidade (não lhes perguntei de onde eram!). Muitas delas tinham traços orientais e deu para descobrir alguns “bichos”, pois americanas desde pequeninas não deveriam ser de certeza. “Meninas” essas, que andam todas aperaltadas e muito bem parecidas, pois têm que fazer pela vida, não é?

O Jimmy, motorista da excursão havia previsto que o bar do Hard Rock Café duraria até altas horas e o ambiente existente era de malta jovem. A discoteca tipo calabouço, restringia-se a um quadrado com a pista central, desnivelada relativamente ao varandim que a circundava. O modus “dançandi” era o velho conhecido: “chega cá e encosta de um lado para o outro”. De início estranha-se mas depois entranha-se. Havia muito gado e divertirmo-nos q.b. Depois, avançámos até ao outro lado da estrada onde se situava o Club Paradise. Por indicação da bíblia (Let’s Go) era o Gentleman’s bar dos USA melhor reconhecido e condecorado… Mas foi uma desilusão! Estar em Las Vegas sem jogar e sem ir a um gentleman’s bar é como ir a Roma e não ver o Papa. Mas se os casinos são claramente deslumbrantes, o resto ficou aquém das expectativas, comparando com Portugal e Madrid isto é para meninos...
Deitámo-nos das 5:00 até às 6:00. Era dia de visitar o Grand Canyon!





terça-feira, 9 de setembro de 2003

O grande dia da partida

A alvorada deu-se pelas 8:00 da manhã, depois de uma noite relaxada mas, ao mesmo tempo, sob o nervosismo do início da grande viagem que se avizinhava. Ainda que tivéssemos pago 24 libras por uma noite, não foi o suficiente para ter um quarto com casa de banho nem pequeno-almoço. Também não interessava muito pois quem se aventura numa viagem à volta do mundo de mochila às costas não pode estar com grandes exigências.
Antes de partir para Heathrow, tomámos o pequeno-almoço, numa cafetaria mesmo ao lado da pousada. O relaxe inicial depressa se transformou numa rápida luta contra o tempo, uma vez que ainda tínhamos que andar cerca de 30 minutos de metro, recolher os bilhetes e fazer o check-in na Virgin Atlantic. Numa viagem transatlântica é exigido que o check-in seja feito com bastante antecedência (neste caso, a hora limite era até às 11:00).
Ontime e com o dever cumprido embarcámos no 747-400 com destino a Los Angeles… sempre que oiço Los Angeles, parece que algo fica por dizer. Qualquer coisa como “From Los Angeles Califórnia…. – The Doors!” (memórias se me avivam da adolescência quando ouvia The Doors).

O espaço entre bancos no avião não era o melhor mas aceitava-se. Além disso tinha um LCD exclusivo e as refeições não eram nada de se deitar fora (até porque não sou nenhum esquisito a comer, comigo marcha tudo!). 11 horas de viagem obriga a todo este “conforto e luxo”, ainda que não comparável com a 1ª classe/executiva onde o tratamento ainda é mais diferenciado e exclusivo, até diria eu, aspiracional! Colocaram-nos no corredor central de 4 lugares do avião (ladeados por duas fileiras de dois lugares cada). Sentados ao nosso lado estava um jovem casal que me suscitou alguma curiosidade. De entre as revistas que se faziam acompanhar para esta longa travessia, encontrava-se uma, em que a capa, contracapa e o tema principal das “trinta mil páginas” de conteúdo era, tão simplesmente, striptease! Pelo que consegui aperceber-me que tinha algo a ver com uma votação. O objectivo da revista era propagandear as moçoilas para posterior votação. A dúvida que surgiu foi se a menina do casal lá estaria estampada, bem como a respectiva associação de ideias entre a viagem e o mito da terra das oportunidades. Hollywood… Em que oportunidade iriam eles apostar? Como será que iriam ganhar a vida? Entretanto, depois de usar e abusar de todas as opções existentes no LCD (esta parte foi como os putos com um brinquedo novo) chegou a hora do pujante almoço acompanhado de um vinhinho tinto e seguindo-se um whisquizinho. Assim a sesta correria pelo melhor (a altas altitudes o efeito é mais rápido).

Chegámos a L.A. (…..The Doors!) às 15:00 horas locais, 23:00 em Portugal. Pensei que o jetlag me iria afectar muito, mas a verdade é que até às 21:00, horas a que me fui deitar, não senti assim tanto o cansaço. Creio que o nervosismo miudinho da emoção e a vontade de querer fazer e conhecer, deixa-nos suficientemente acordados.
Falando um pouco da chegada alucinante aos Estados Unidos, apesar de compreender que “casa roubada trancas à porta”, creio que não é por todo aquele “espalhafato” que se evitará um ataque terrorista como o que aconteceu há 2 anos nas torres gémeas em New York. A burocracia para entrar nos USA é um pouco alucinante. Revistaram-nos umas 5 vezes, mostrámos o passaporte cerca de 10 vezes, perguntaram-nos quanto tempo iríamos ficar nos USA outras 20 vezes e obrigaram-nos a preencher um papel ridículo com umas questões totalmente surreais. Por exemplo, perguntavam se éramos terroristas, presos, se tínhamos armas de fogo connosco ou se queríamos asilo político… Bom, de filme! Estou mesmo a ver alguém a declarar que tem uma G3 em sua posse pois quer vir aos states matar um par de gente… Apesar do ridículo da situação, a verdade é que impunha respeito e em determinados momentos ponderei se por obra do acaso não iriam implicar comigo por alguma razão sem fundamento.

Depois desta aventura inicial em terras do tio Sam precisávamos de encontrar onde pernoitar. Dirigimo-nos às informações do aeroporto e, com a ajuda de uma simpática senhora com os seus 60 anos, de cabelos loiros, lisos e fortemente ondulados na parte final junto ao pescoço (devido à marcada intervenção do secador), reservámos uma pousada mesmo junto à praia – Venice Beach. Curiosamente a senhora já tinha estado em Portugal, não sabia muito bem onde, mas a descrição do local com montanhas até ao mar com umas de madeira casas muito peculiares, fez-nos deduzir que era no Funchal. Sem possibilidade de confirmação a dúvida ficara… Apanhámos o autocarro, seguindo as suas indicações iniciais e, com o avançar do tempo, fomos obedecendo às novas ordens das motoristas. Sim, senhoras motoristas! Passámos ao largo do centro de L.A (…The Doors!) onde sobressaía no horizonte uma grande torre de escritórios (a Deloitte deve ser ali pensei!). Numa das paragens, ao efectuar o transbordo, cruzámos com um “pintas”. Olhos claros, meia altura, cabelo curto, meio loiro, meio ruivo, com todo o aspecto de backpacker com experiência e cara de inglês. Ia para a mesma pousada que nós. Estava no final da sua volta ao mundo, vinha das ilhas Samoa no Pacífico Sul e, dali a 2 dias regressava a Inglaterra. O que me deixou alucinado, com uma vontade enorme de conversar com ele, foi o facto de estar a fazer a volta ao mundo há um ano. Repito, há um ano que andava a vaguear pelo mundo!.. E sozinho! A curta conversa que tivemos terminará com o check-in do hotel. Contudo, a minha vontade de falar com o jovem inglês era enorme! Queria saber mais. Queria ser aconselhado. Queria ouvir ideias e experiências de alguém que passou um ano a fazer o que eu iria fazer em 40 dias. Queria sentir as coisas boas que ocorreram. Queria precaver-me de potenciais problemas e cuidados a ter. Queria matar a minha curiosidade em saber como arranjou tanto dinheiro para estar um ano a viajar. Queria saber onde se arranjara tanta coragem para se aventurar sozinho pelo mundo…

Deixámos a mochila no quarto e saímos do hotel para molhar os pés no pacífico. À saída uma pintura numa fachada das casas saltou-me à vista. O retrato de Jim Morrison. O malogrado vocalista dos Doors, que falecera aos 27 anos e permanecera um mito. Confirmava-se. Estávamos em Los Angeles – Califórnia (... The Doors!).
O sol, lentamente punha-se. Na praia havia muitos surfistas e a temperatura baixara ao desagrado. Ainda assim, na Venice Boulevard, tal como na televisão, havia muita gente a fazer os mais variados desportos ao ar livre: jogging, musculação, basket 3x3, patins em linha, bicicleta, … Foi bastante agradável aquele passeio ao final da tarde pela praia e ver a pessoas a “vadiar”. América, … América é tudo como nos filmes, tudo! Os carros, as pessoas, as praias, a policia, as casas, as ruas, tudo! Tudo que vejo associo a um filme. Por exemplo, Venice Beach, com as suas praias e Marina del Rey com os seus barcos, associo a um filme de “produção fictícia” que uma vez vi, não sei bem onde. Às praias típicas das “Marés Vivas”, as ruas com perseguições de um policia da LAPD atrás de um sul-americano. Tal como frequentemente vemos nos filmes ou nos noticiários. Naquele momento senti que tudo que via, agora era real.

Regressámos à pousada num rápido stop-and-go antes da janta. O restaurante chinês, seguindo a recomendação do recepcionista, serviu-nos bem. De seguida, e de papo cheio, fomo-nos deitar. No dia seguinte planeáramos visitar Las Vegas, num pacote turístico em oferta na pousada. Por, apenas, 169 USD teremos Las Vegas, Grand Canyon e Hoover Dam aos nossos pés e com direito a Hotel. Compram-se sonhos baratos, desfazem-se desejos de anos, constroem-se castelos na areia. É esta a terra de todas as oportunidades.

Em busca dessas mesmas oportunidades vêm imensos sul-americanos. O espanhol é, por isso, a segunda língua. Grande percentagem da população é sul-americana impondo, de certa forma, a proliferação do castelhano por todo o lado, nos placards dos autocarros, cafés, jornais e por toda a gente. Hasta mañana hermanos!



segunda-feira, 8 de setembro de 2003

Aquecendo os Motores

Curioso! Logo à saída de Lisboa, e por obra do acaso, cruzo com a Carla Dias. Seguia para o projecto da TPI (Telefónica Publicidade Información), vulgo "Páginas Amarelas Espanholas", em Madrid. Esse mesmo projecto onde estive praticamente um ano a "angariar" todo o capital para fazer a mochila e lançar-me na volta ao mundo. Fui invadido por todas as recordações desse tempo e dei por mim com um sorriso nos lábios. As noitadas, os fins-de-semana de muito trabalho, mas, também, os copos e muita diversão, os concertos dos coldPlay em Madrid e dos Rolling Stones em Barcelona, as escapadinhas pelas capitais europeias e acima de tudo a camaradagem e as amizades que por lá fiz. Ala Madrid!
A viagem à volta do mundo só começara em Londres, onde daí apanhámos o avião para as Américas. A viagem até Londres foi passada a devorar jornais do dia e revistas que tinham a leitura atrasada. A excitação havia vencido o sono e a ânsia de poisar na primeira cidade desta abertura deixava-me um nó no estômago.
Desenrasquei-me para chegar até à YHA Hostel em Oxford Street. O recepcionista era Português, (e não é o único pois, pelos vistos) há Tugas em todo o lado! Subi para o quarto onde esperei pelo Hugo que vinha de Madrid. Às 17:30, o Hugo chega e em emoção acorda-me: está a equipa junta para a aventura que se avizinha. Reparei no golpe feio que tinha no queixo. Não fosse a bebedeira comemorativa de véspera com o pessoal de trabalho ser tão animada. Valentes!
Só viajávamos no dia seguinte, pelo que dar uma volta por Londres nos pareceu um óptima ideia. Saímos em direcção ao cybercafé mais próximo. Ficava em Totthenham Court. O objectivo era confirmar a estadia em Rarotonga, nas Ilhas Cook, pois a pouca oferta existente poderia resultar numa possível barreira à entrada no País. Infelizmente, na outra ilha do atol – Aitutaki, não tivemos tanta sorte e decidimos adiar a marcação. Já em Trafalgar Square, comprei o Let’s Go Califórnia. Esta é uma das minhas bíblias de viagens preferidas que já me acompanhou nos inter-rails à Europa de Leste e à Grã-bretanha, e continuará a figurar no topo da lista dos guias de viagem. Enquanto vagueávamos pelo soho, escolhemos um restaurante indiano – Chowki, para jantar. Muito bom e, para o nível de vida Londrino, nem considerei muito caro (15Libras). Depois de jantar puxa sempre um belo copo. Dois gins tónicos foram suficientes para desfrutar de um bom momento no Revolution. Quando fiz o inter-rail no ano anterior já tinha ficado com vontade de lá voltar. A decoração, música e ambiente ficara-me na memória. Conseguimos (re)encontrá-lo e passámos uma boa meia hora de conversa sobre as nossas expectativas para a viagem. A conclusão foi unânime: aproveitar todos os momentos como se fossem últimos, pois um sonho só acontece uma vez! Seguiu-se Ronnie Scott, um dos mais famosos jazz clubs… As bandas tocavam ao vivo e um deles era norte-americano (George Fame), a letra das suas músicas fascinou-me. Uma delas, até se referia a um amigo Português que tinha de longa data. Os portugueses são verdadeiros marcos na vida!
Londres fascina-me. Não sendo a primeira vez que cá estou, acho que hoje ainda mais impressionado fiquei. Não sei se influenciado pela emoção da aventura que se avizinha, ou por outra coisa qualquer, mas aqui as pessoas são "todas diferentes, todas iguais". Não se incomodam com quem partilham o metro, o lugar do autocarro ou os passeios para o trabalho, como diriam os madrilenos, "cada um vai à sua bola". Esta cidade de tão grande e cosmopolita que é, encanta-me definitivamente!
Não sabia se conseguiria escrever tudo o que me passava pela alma, não sabia se tinha muito jeito para escrever, mas a vontade de deixar escrito tudo o que senti fez com que continuasse a escrever.
Amanhã será outro dia. E que dia! O início da tão desejada Volta ao Mundo em 40 dias.

domingo, 7 de setembro de 2003

DIA ZERO - FINALMENTE O SONHO IA COMEÇAR

Não sei ao certo quando tudo começou. Sei que queria continuar a ser cidadão do mundo. O que levámos daqui são recordações. Queria algo mais que Portugal e a Europa. Tinha de ir ao “lado de lá”. Sempre que conhecia uma cidade ou país, logo ganhava nova vontade de saber um outro. Mais um, e novamente mais outro. Foi sempre assim, desde a primeira viagem. Do hábito de viajar fez-se vício, como droga que não se toma, mas se sente. Passei a sofrer do prazer de conhecer, da aventura, da procura constante de me misturar às gentes, aos lugares e às culturas. E assim colorir o meu mapa-mundo.

Viajar, conhecer e viver além fronteiras, não mata, torna-nos mais fortes. Recordámos o passado menor, temos esperança num futuro maior! E o regressar tem uma perspectiva diferente. Nem boa, nem má. Apenas diferente, da vida, do mundo, das pessoas, do país e, principalmente de nós próprios… Ao viajar acreditámos e idealizámos. Tornámo-nos bichos-do-mato, inconformados, sonhadores, fora da lei e felizes! A liberdade aumenta e, por vezes a libertinagem também. Felizmente, no final de tudo, tornou-se mais claro o meu lugar. (Re)confirmei-o. A saudade do que é nosso. O cheiro do cozido, o saborear das Francesinhas, o ouvir do fado, a emoção da Portuguesa, o palrar da pronúncia do norte, a brisa do mar! Não há nada com o regresso a casa, à nossa cama, ao abraço meigo dos amigos. Dei a volta ao mundo e quero este país à beira-mar plantado. Gosto da minha terra, amo as minhas pessoas, valorizo o que é meu. Como nunca! Nesta viagem, nesta aventura, inevitavelmente, (re)encontrei(-me) e (re)confirmei mais uma vez. O meu eu!

A força para criar estas memórias cresceu na infância. Nessa altura conheci-te. Na juventude fui para fora cá dentro, à aventura e de viola na mão, pela Europa andei. Sem querer, separámo-nos. Jovem, e apaixonado pela vida, delirei quando devia, cometi loucuras sempre que podia. Aí pouco te via. Foram os melhores anos da nossa vida e concretizei o que queria. Recentemente reencontrei-te. Agora, amo-te como sonhara. A química, o gostar e o amar. Finalmente! Afinal era isto que me movia…

Muitos relatos, algumas estórias, muitas emoções, algumas complicações. Seguramente momentos ímpares e inolvidáveis. Aqui fica o meu contar desta experiência de 40 dias, censurados ou (talvez) não. Vivências positivas, certamente sim. Partilho mais um pouco de mim, num relato diário, de experiências ao minuto. E pego, então, em mais um lápis de cor...